Hoje, ao abrir o meu FB, dei conta da quantidade de amigas e amigos que tenho e se preocupam comigo. Alguns dos quais, com quem não falo pessoalmente à muito tempo, mas que, à distancia, me têm seguido. Sempre atentos. Sempre amigos. Sempre preocupados.
Confesso que fiquei esmagado. Também eu sou um piegas. Aliás, sou Português, logo sou tacitamente Piegas.
Estou a passar por um momento particularmente dificil, ao nível da minha saude ocular. Nos anos de 2002 e 2003, fui operado nos HUC em Coimbra, aos dois olhos. O meu quadro clínico era simples. Miopia e astigmatismo. Grande miope que não suportava o desbaste de cornea que o laser incutia. Fiquei esclarecido. Colocaram-me lentes artisan, intra-oculares, e mandaram-me embora. Até aqui tudo bem. A partir daqui, tudo mal. Nunca me marcaram visitas de rotina, para além da obrigatoria, passada uma semana. À dois anos, percebi que já não lia as legendas do telejornal. Alarme. Mas que se passa? Lá consegui uma consulta nos HUC. O médico que me operou, traçou o diagnóstico, depois de uma bateria de testes. -Cataratas. Disse! - E agora? Perguntou aqui o paciente. - Ainda estão insipientes. Volte mais tarde. Mais tarde? Quando? Quando me apetecer? Começo agora a perceber o desleixo e a incompetência de que fui alvo. Nem uma nova consulta ficou marcada. Estou à vontade para falar desta maneira. Não me processam de certeza. Bastará uma inspeção de rotina ir consultar o meu processo como doente, para perceber e confirmar tudo aquilo que aqui digo. Como cada vez piorava mais, tentei marcar nova consulta. Fui informado que teria de ir ao meu Médico de família. Assim fiz. Diligente e precavido, o meu Médico tratou de me marcar imediatamente uma consulta. Ficou para daí a uns meses, mas para um médico do HDS. Disse-me o meu Médico que o sistema Alert obrigava a marcar consulta de especialidade, num hospital da area de residência. Que não era possivel mandar-me para os HUC. Esperei pacientemente pelo dia da consulta. O passado dia 17 de Abril. Mas antes disso, nunca parei de insistir para os HUC para ser consultado pelo médico que me operou. Cheguei a reenviar o mail todos os dias. Tipo "chato de serviço". A verdade é que, coincidencia ou não, fui chamado. E no dia 15 de Março, lá me prantei. O médico que me havia operado, mandou fazer uns testes. O que soube desses testes foi o que fui perguntando. Saí de lá com uma certeza. Afinal o meu caso era tão grave que eu passara a doente prioritário. Até assinei uma declaração nesse sentido e tudo. Mas doente prioritário pra ser operado a quê? Cataratas, pensei eu. Não obstante o aviso que o médico que me havia operado tonitroou. -Não pense que vai sair da operação a ver como quer! Motivador, não? Ao que eu respondi com a humildade dos mortais: - Só desejo ver melhor do que aquilo que vejo agora.
Voltemos agora à tal consulta aqui no HDS Santarém, o Médico, como primeiro teste, mandou medirem-me a tensão ocular. Fiquei então a saber que este teste é primário. PRIMÁRIO! Resultado do teste? 38, num máximo aceitável de 20, segundo este Médico. Quase o dobro! O Senhor ficou alarmado e perguntou-me se nunca tinham detetado esta tensão nos ditos HUC. Ao que eu respondi: - Nunca! e porque é que o digo de forma tão peremptória? Porque me diz este Médico do HDS que esta tensão ocular não é de agora. Então pergunto: - Porque é que não a detetaram um mês antes, mais precisamente a 15 de Março? A verdade é que, sabendo que qualquer queixa se esfumaria por entre os dedos do sistema judiciário, há casos em que a doença que o Médico do HDS me detectou, Glaucoma, não tem relação com a tensão continuada sobre o nervo ocular. Sendo no entanto verdade que essa tensão continuada, provoca perda de visão, com inevitavel estreitamento do campo visual. Levando-o a um, por vezes irreversivel afunilamento da visão e consequente cegueira. Passei de imediato a colocar colírios em ambas as vistas, por forma a diminuir a tensão ocular. O Médico do HDS. diligente e competente, mandou-me marcar uma consulta de Campos Visuais. Percebi. Fez-se então claro para mim, que essa perca de visão periférica já tinha começado no meu olho esquerdo. De repente, tudo parece muito obvio. O que me disse ainda o Médico do HDS? - Contacte de imediato o médico que o operou. Assim fiz. Cheguei ao meu local de emprego e com consentimento superior, telefonei para os HUC. Debalde. Ninguem atendeu. O que fiz? Enviei um mail relatando toda a situação, pedindo ajuda. Termino o mail dizendo desesperado que tenho 3 filhos que precisam dum Pai em condições para continuar a trabalhar. Mas resposta até hoje, nem vê-la!
Foi aqui que decidi falar com Deus. Disse-Lhe tudo. E Ele, de forma sempre paciente ouviu. E sem me dizer nada disse-me tudo, agindo. Como disse Nietzsche no "Crepúsculo dos Idolos" quando abordava a forma como os gregos,antes de Sócrates (o filósofo) entendiam a dialética: "Só se escolhe a dialética quando não se dispõe de outro meio". E que outro meio tem Deus?
É sabido que Deus tem na Terra os seus Homens Bons. Muitos não o sabem. Julgam mesmo que não fazem mais do a sua obrigação quando ajudam o próximo, sem olhar a quem. Não percebem que exactamente por não perceberem que reunem em sí as condições sine qua non, para terem sido "escolhidos" para serem seus mensageiros. Não precisam de falar. Ajem!
Esse Anjo interceptou-me. Tocou-me. Da noite para o dia já estava tudo decidido. Não fora assim e eu nunca o aceitaria. Este orgulho lixado é o meu ponto fraco. Até isto o Anjo sabia e atuou de forma "despercebida", mas sempre amando o próximo. Percebi que estava de partida para Barcelona, para a Clínica Barrauquer, para alguns a melhor Clínica do mundo no que a glaucoma respeita.
Aqui chegado, queridos amigos, agradeço em lágrimas sentidas as palavras queridas que me fizeram chegar. Calaram fundo no meu coração. Neste coração piegas. A Deus, agradeço por me ter enviado o seu mensageiro. A este último, ao mensageiro com asas brancas o que se poderá dizer? Haverá palavras já inventadas para lhe agradecer? E a resposta é não! Voltando a Nistzsche e à dialética. Mais do que ela, é a acção que conta. Seguir o exemplo. Tentando ser melhor cada dia que passa. Repetindo o que por nós fazem. Copiar esses gestos sublimes, mudando para melhor a vida dos outros.
Termino relembramdo o Zorro e outros super herois da minha meninice. Quando iam para lhes agradecer, eles já lá não estavam. Nesta narrativa, a expressão simbólica que aqui se representa é a de que, quem ajuda genuinamente, nunca espera o agradecimento. Enfim, o meu Anjo também é um verdadeiro Super-Heroi!
Que Deus o conserve.